Consultora e proprietária da QA Projetos e Consultoria que atua na área de infraestrutura, saneamento, meio ambiente e hidrologia/hidráulica, Fernanda Almeida de Oliveira, Engenheira Civil pela Universidade Paulista, com Curso Superior em Tecnologia de Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (2006), MBA em Auditoria, Perícia e Gestão Ambiental pelo IPOG e Mestrado em Engenharia do Meio Ambiente pela Universidade Federal de Goiás (2012), fala dos desafios enfrentados pelas cidades em relação à drenagem urbana, aponta os principais impactos da falta de infraestrutura adequada na área e assinala: “Cada vez mais tem-se visto soluções descentralizadas, sistemas com múltiplas propostas de solução com utilização de diversas técnicas de drenagem sustentável, como poços de infiltração, sistemas de armazenamento subterrâneo, valetas drenantes e bacias de amortização que reduzem a carga sobre os sistemas centralizados”.
Principais desafios
Nos grandes centros, assim como Goiânia, muitos sistemas de drenagem urbana são antigos e não foram projetados para lidar com as atuais demandas, o que pode levar a falhas frequentes e inundações. Parte das cidades tiveram crescimento desordenado das áreas urbanas, que aumenta a quantidade de superfícies impermeáveis, reduzindo a infiltração da água no solo e aumentando o escoamento superficial.
A nossa região tropical tem por característica meses de chuva e meses de ausência total de precipitação. Os sistemas demandam obras robustas para os meses de intensa precipitação e manutenção eficiente nos meses de seca, isso em relação às estruturas. Em relação à qualidade de vida é necessário aproveitar ao máximo os meses de chuva com sistemas sustentáveis e inteligentes que promovam recarga de aquíferos para que nos meses de seca tenhamos um sistema mais equilibrado e com maior qualidade.
São inúmeros os desafios enfrentados nas cidades e a multidisciplinaridade exigida para sanar todas as demandas é muitas vezes descartada nos projetos de solução. Crescimento desordenado, infraestrutura antiga, planejamento ineficiente, poluição, manutenção precária, escassez de recursos financeiros, mudanças climáticas e falta de conscientização pública sobre práticas sustentáveis de gestão da água agravam os problemas de drenagem urbana.
Influência na qualidade de vida
Os sistemas de drenagem conseguem ditar o padrão de qualidade de vida de uma área a ser urbanizada. A infraestrutura de drenagem urbana tem um impacto significativo na qualidade de vida dos moradores, influenciando diversos aspectos do dia a dia. Sistemas de drenagem que incorporam práticas sustentáveis, como jardins de chuva e pavimentação permeável, ajudam a recarregar os lençóis freáticos e melhorar a qualidade ambiental.
Sistemas de drenagem bem projetados e mantidos ajudam a evitar inundações em áreas urbanas, que podem causar danos a propriedades, perda de bens e, em casos extremos, até mesmo perda de vidas.
Quanto à saúde pública, águas pluviais mal geridas podem levar ao acúmulo de água parada, que é um ambiente propício para a proliferação de mosquitos transmissores de doenças. Além disso, inundações podem causar contaminação da água potável com esgoto, aumentando o risco de doenças de veiculação hídrica.
Vale salientar que inundações frequentes e de grande porte podem danificar estradas, pontes e outras infraestruturas urbanas, gerando custos elevados de reparo e manutenção. Além disso, áreas frequentemente inundadas podem desvalorizar imóveis, impactando negativamente a economia local.
Em relação à mobilidade urbana, os projetos de drenagem eficientes ajudam a manter as ruas e estradas livres de água acumulada, garantindo a mobilidade de pedestres e veículos. Isso é crucial para a eficiência do transporte público e privado e para a segurança no trânsito.
Principais impactos
A ausência de um sistema de drenagem eficiente pode levar a inundações frequentes, especialmente durante períodos de chuva intensa. Isso pode causar danos a propriedades, infraestrutura pública e privada, e desabrigar moradores. As inundações podem levar à contaminação da água potável com esgoto e outros poluentes, aumentando o risco de doenças transmitidas pela água, como a leptospirose. Inundações frequentes podem desvalorizar imóveis em áreas afetadas e desencorajar investimentos. Empresas podem sofrer interrupções nas operações, resultando em perdas econômicas significativas.
Fora a necessidade de obras emergenciais de limpeza e manutenção e reparação de danos, desviando recursos de outras áreas importantes, como educação e saúde.
Políticas públicas
Existem várias políticas públicas que podem ser fundamentais para a melhoria da drenagem urbana. Desenvolver planos diretores que integrem a gestão de águas pluviais com o planejamento urbano é a mais rica ferramenta nesse critério. No planejamento, é possível promover e incentivar a implantação de infraestrutura verde, como telhados verdes, pavimentos permeáveis, jardins de chuva e parques urbanos, que ajudam a absorver e reter a água da chuva, reduzindo o volume de escoamento superficial.
Hoje no nosso escritório temos duas vertentes de atuação no que tange à drenagem urbana, a implantação de novos sistemas e a revitalização de sistemas já implantados que precisam de adequação. Quando recebemos de presente a oportunidade de projetar sistemas novos em loteamentos em fase de implantação, o sistema é compatibilizado com um planejamento urbano integrado. Nesse caso é possível utilizar sistemas de Drenagem Sustentáveis (SuDS) e com a adoção de práticas de drenagem urbana sustentável que imitam os processos naturais de infiltração e retenção de água, ajudando a controlar a quantidade e a qualidade das águas pluviais que chegam aos sistemas de drenagem. No caso de sistemas já existentes o desafio está em diagnosticar e propor solução que permita que o sistema se modernize com o objetivo de evitar entupimentos, colapsos e ineficiências.
Quanto à educação e conscientização, é interessante implementar programas de educação e conscientização para a população sobre a importância da gestão das águas pluviais e sobre práticas individuais que podem ajudar, como evitar o descarte de lixo nas ruas e bueiros.
Geograficamente, estabelecer regulamentações de zoneamento que limitem a impermeabilização do solo e incentivem o uso de materiais permeáveis em novas construções. Isso pode incluir incentivos fiscais para desenvolvedores que adotem práticas sustentáveis pode ser uma ferramenta bastante eficiente.
Atualmente tem-se batido na tecla da resiliência climática, onde é colocado no planejamento e nas construções de sistemas de drenagem a preparação para que as cidades saibam lidar com eventos climáticos extremos, que podem se tornar mais frequentes devido às mudanças climáticas.
Responsabilidade de todos
Cada indivíduo pode dar sua contribuição para que o sistema funcione melhor e de forma mais orgânica. O segredo para que a drenagem seja eficiente e benéfica é fazer das áreas urbanas o mais próximo da natureza possível. Logo, a combinação de esforços comunitários e tendências inovadoras pode ajudar a criar cidades mais resilientes e sustentáveis, capazes de lidar com os desafios relacionados à drenagem urbana de forma eficaz. Podemos utilizar pavimentos permeáveis em calçadas e entradas de veículos, plantar jardins e gramados, que ajudam na infiltração da água da chuva, evitar jogar lixo nas ruas e bueiros, participar de mutirões de limpeza comunitária, promover hortas comunitárias e parques locais que ajudem a absorver a água da chuva. Dentre as ações sociais, podemos participar de programas de educação ambiental e conscientização sobre a importância da gestão das águas pluviais, participar de reuniões de planejamento urbano e audiências públicas, colaborar com autoridades locais para identificar áreas problemáticas e propor soluções. Em casas, é possível coletar água da chuva para uso em jardinagem e limpeza e pode-se ainda reduzir o uso excessivo de água, que pode sobrecarregar os sistemas de esgoto durante chuvas intensas.
Tendências na área
Um sistema que não é tão novo e amplamente implantado no mundo todo é a infraestrutura verde e azul que consiste em adoção de soluções baseadas na natureza, como parques urbanos, lagos artificiais, zonas úmidas construídas e jardins de chuva, que ajudam a gerir a água de forma sustentável.
Eu tive a oportunidade de fazer mestrado em Engenharia de Recursos Hídricos pela UFG, em 2010, e nas pesquisas orientadas pelo professor Klebber Formiga utilizamos sensores inteligentes e sistemas de monitoramento para coletar dados sobre níveis de água e índices pluviométricos. Monitoramento juntamente com implementação de sistemas de modelagem preditiva para prever inundações e otimizar a gestão das águas pluviais, é uma tendência forte e necessária para qualidade nos projetos e eficácia nas tomadas de decisão.
O planejamento urbano que integra a resiliência climática, considerando os impactos das mudanças climáticas e a necessidade de adaptação e projetos de infraestrutura que incorporam a capacidade de lidar com eventos climáticos extremos também são promessas para um futuro breve.
Cada vez mais tem-se visto soluções descentralizadas, sistemas com múltiplas propostas de solução com utilização de diversas técnicas de drenagem sustentável, como poços de infiltração, sistemas de armazenamento subterrâneo, valetas drenantes e bacias de amortização que reduzem a carga sobre os sistemas centralizados.