Formado em Engenharia Industrial Mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pelo Institut National des Sciences Appliquées de Lyon (INSA-Lyon), pós graduado em Construção e Incorporação Imobiliária pela Fundação Getúlio Vargas, com vasta experiência em multinacionais como British Petroleum (BP), Saint Gobain e Embraco, Humberto Furlanetto de Oliveira atua em Goiânia com incorporação e construção, na Bambuí Empreendimentos, há 17 anos, sendo os últimos 10 anos no posto de CEO da empresa.
Em entrevista à Construir Mais Online, o profissional compartilha um pouco de sua experiência e fornece detalhes sobre a Indústria 4.0 na construção civil.
O que é a Indústria 4.0 e como ela se aplica à construção civil?
A indústria 4.0 ou Quarta Revolução Industrial, é um movimento que traz para as cadeias produtivas toda a revolução digital que a humanidade vivenciou e experienciou nos últimos anos.
Quais as principais tecnologias envolvidas na Indústria 4.0?
Podemos citar inúmeros exemplos como o incremento da automação nos processos, a introdução da robótica, a I.A conectada a Big datas, IOT, impressoras 3D, equipamentos autônomos, entre tantos outros.
Quais os principais benefícios da adoção da Indústria 4.0 na construção civil?
Vários efeitos podem ser percebidos quando da aplicação dessas novas tecnologias. Cada área busca, naturalmente, aquelas que fazem mais sentido para seus negócios sempre buscando maior eficiência para seus negócios.
Para a construção, temos inúmeras iniciativas já testadas e que vêm ganhando força no segmento ao longo dos anos. Para citar alguns exemplos:
- Modelagem de projetos com compatibilização automática
- Geração e utilização de imagens em 3D para orientação de trabalhadores em campo
- Plataformas de otimização de compras, reduzindo distâncias e otimizando custos
- Utilização crescente de máquinas e equipamentos cada vez mais modernos, mais rápidos e mais eficientes,
- Maior controle dos serviços executados em canteiro, muitas vezes chegando a ser controlado e medidos por sistemas que operam em tempo real na mão dos funcionários ou remotamente através de câmeras acopladas em capacetes ou drones que sobrevoam canteiros nos permitindo enxergar situações que muitas vezes eram ignoradas,
- Sistemas cada vez mais robustos para gerenciamento de projetos e obras, eliminando controles físicos e permitindo aos empreendedores uma visão mais próxima à realidade
- Plataformas de mapeamento do mercado que consolidam informações cada vez mais importantes para a tomada de decisão. Aqui inclusive parabenizo o Sinduscon pela iniciativa de buscar viabilizar uma plataforma que integraria dados comerciais, construtivos e municipais favorecendo não apenas o segmento, mas toda a população gerando mais transparência e previsibilidade para todos os seus operadores, desde o usuário da cidade até o gestor da mesma.
Enfim, os exemplos são inúmeros. Compete a nós atuarmos de forma curiosa e corajosa para entender, aprimorar e cada vez mais utilizar essas tecnologias que surgem a cada dia.
Quais os maiores desafios para a implementação da Indústria 4.0 na construção civil e como superá-los?
É sempre desafiador agregar novas tecnologias pois somos obrigados a abandonar nossa zona de conforto. Precisamos fazer tudo acontecer sem travar nossas operações. Para produtos que possuem ciclos longos, estamos afirmando que sistemas distintos coexistirão na empresa, o que é sempre confuso e demanda investimento. Precisamos trocar o pneu sem parar o carro!
Como muitas ferramentas são recentes, existe um desafio enorme de formar profissionais que atuem diretamente com elas no nível de excelência esperado. Quando falo em formar, não me limito aos novos profissionais que deveriam se formar nos ensinando sobre o tema, falo também de formar uma enormidade de profissionais que nos últimos anos acumularam vasto conhecimento técnico e prático que não podem ficar de fora dessa revolução.
Outra dor enorme é conseguir de fato identificar entre tantas opções aquelas que serão mais adequadas à cada empresa. Estamos falando de inúmeras iniciativas, passando por padrões construtivos, tecnologias de construção, substituição de materiais, sistemas de gerenciamento, de controle, de qualidade, etc.
Para algumas dessas ferramentas ainda precisamos trabalhar em cadeia para gerar um resultado otimizado, e por muitas vezes precisamos atuar junto aos parceiros de forma a incentivá-los e encorajá-los a mudar, o que por vezes adia o resultado esperado frustrando muitas iniciativas.
Poderíamos ainda citar normativas que estão paradas no tempo ou que evoluem em descompasso com as evoluções de mercado, dificuldade e entraves econômicos para importação de soluções não existentes no Brasil, entre outras.
Como essas tecnologias podem melhorar a eficiência e a qualidade
Essas tecnologias podem gerar inúmeros ganhos, como por exemplo, aumento de produtividade, redução de retrabalho em canteiros, controle e rastreabilidade de materiais, redução de desperdício, maior transparência nas informações permitindo a melhor mensuração dos riscos para investidores, reduções de ciclos produtivos melhorando viabilidades, troca de informações entre players para melhor alcançarem objetivos comuns, redução de dependência da mão de obra pouco qualificada, etc.
De que maneira a Indústria 4.0 pode contribuir para a sustentabilidade na construção civil?
Podemos citar como exemplo a redução do desperdício de materiais ou mesmo a substituição de materiais que tem características poluentes, curta via útil ou que exigem esforços demasiados dos colaboradores responsáveis por reduzir o tempo de atividade do mesmo. Temos ainda equipamentos que aumentam a produtividade e eliminam atividades repetitivas causadoras de mazelas como a LER. Ou mesmo equipamentos que solucionam problemas de logística dentro de canteiros. Controles diversos podem melhorar significativamente os problemas de logística dentro do canteiro, reduzindo a movimentação vertical de profissionais, aliviando as cremalheiras e reduzindo gastos de energia. Quando falamos nesses itens, naturalmente estamos falando em otimização financeira das operações, o que confere maiores rentabilidades, menos surpresas indesejadas, maior segurança e, portanto, um mercado cada vez mais vigoroso. Enfim, as possibilidades de ganho são inúmeras.
Quais as tendências futuras da Indústria 4.0 na construção civil?
Hoje a eletrificação é um tema de grande relevância, bem como a geração sustentável de energia para suprir essa demanda. Outro tema muito relevante é como a IA afetará nossos negócios, sobretudo quando interligada a sistemas conectados a equipamentos, sensores, atuadores e outros. Também citaria a manufatura híbrida como uma tendência com potencial para realizar transformações enormes gerando soluções cada vez mais assertivas e individualizadas. E não podemos deixar de lembrar dos nossos amigos “robôs” que prometem trabalhar 24hs por dia, 7 vezes por semana, sempre seguindo seu padrão de entrega.
Que dicas você daria para empresas de construção que estão começando a explorar as tecnologias da Indústria 4.0?
Sugiro a todos não deixar de estudar e pesquisar diariamente sobre esses temas além é claro de ter coragem de se arriscar nesse novo universo de possibilidades que surge diante de nós.