Em entrevista exclusiva ao Construir Mais Online, Flávia Tissot, formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sócia do Grupo OSPA e sócia fundadora e COO da startup PLACE, plataforma de cidades inteligentes que geolocaliza dados de mercado e legislação urbana para facilitar a análise dados para agentes públicos e empreendedores, detalha como a gestão e a análise adequada de dados podem melhorar a tomada de decisões em projetos imobiliários e alerta: “O futuro do desenvolvimento imobiliário será cada vez mais orientado por insights baseados em dados. Acreditamos que novas tecnologias como machine learning e inteligência artificial terão um papel crucial neste caminho”.
Quais tipos de dados são mais relevantes para o desenvolvimento imobiliário?
Para o desenvolvimento imobiliário, alguns dos dados mais relevantes incluem dados de legislação urbana, essenciais para entender as regras e normas de construção e uso do solo. Dados de lançamentos imobiliários, como estoque, velocidade de vendas, e preços, ajudam a analisar o mercado. Dados de imóveis secundários, que estão sendo revendidos, também são importantes para entender a dinâmica do mercado, assim como dados referentes a custo de obra e aluguel.
De que maneira a gestão e análise de dados podem melhorar a tomada de decisões em projetos imobiliários?
A gestão e análise de dados proporcionam uma visão mais clara e detalhada do mercado imobiliário, permitindo aos desenvolvedores identificarem oportunidades e riscos com maior precisão. Com dados bem estruturados, é possível realizar análises preditivas, otimizar a alocação de recursos, e personalizar ofertas conforme as demandas específicas do mercado. Isso resulta em decisões mais informadas, redução de custos e aumento da eficiência nos projetos. Na PLACE, através de visualizações em camadas, filtros e dashboards, o usuário pode interagir com uma vasta base de dados advindos de diversas fontes, incluindo oferta de imóveis à venda, oferta de aluguéis, renda da população, usos possíveis, empregos na região, tráfego, proximidade de ônibus e metrô, atividades econômicas. Essas informações podem ser cruzadas com dados de legislação, como topografia, áreas inundáveis ou contaminadas, patrimônio histórico, áreas de proteção ambiental, entre outros. Também integramos e gerenciamos as bases de dados dos clientes, como planilhas de Excel, para que o usuário possa conectá-las com outras fontes de dados de terceiros e mantê-las atualizadas em um único local, focando na gestão de seus ativos. Nossa ferramenta possui um grande poder de comunicação de dados, não apenas ajudando o usuário a interagir com as informações de forma fácil e intuitiva, mas também trabalhando para entender e apresentar os dados da melhor forma possível, para que o próprio usuário possa facilmente ter insights a partir da interpretação destes dados e, principalmente, ter acesso a uma vasta base de dados para não errar nas suas decisões.
Quais os maiores obstáculos para a implementação efetiva da compilação de dados no setor imobiliário?
Os maiores obstáculos incluem a falta de integração entre diferentes ferramentas e sistemas, além de uma certa resistência do setor imobiliário em adotar novas tecnologias e inovações. Muitas vezes, os dados estão fragmentados e dispersos em diversas fontes, o que dificulta a sua consolidação e análise.
Como o setor pode superar esses desafios para aproveitar ao máximo essas ferramentas?
A PLACE trabalha exatamente para superar esses desafios, oferecendo uma plataforma integrada que consolida diversos tipos de dados relevantes para o mercado imobiliário.
O usuário pode navegar por qualquer local da cidade e acessar informações específicas sobre a legislação aplicável a cada área: quanto pode ser construído, se está em uma área de proteção, se há alguma legislação específica sobre o terreno ou imóvel. Em tempo real, é possível obter uma estimativa de custo, receita e retorno sobre o investimento naquele terreno, além de visualizar uma simulação 3D de como seria um prédio construído de acordo com as normas vigentes. Para atender às dúvidas específicas dos usuários sobre imóveis ou regiões que estão analisando, oferecemos um "chat tira-dúvidas" com inteligência artificial. Este recurso responde a questões sobre legislação e informações regionais, proporcionando respostas precisas e contextualizadas com informações locais.
Ao promover a integração de sistemas e a capacitação dos profissionais do setor, ajudamos a criar um ambiente mais aberto à inovação e ao uso de novas tecnologias.
Na sua opinião, qual será o futuro do desenvolvimento imobiliário com o avanço da tecnologia na compilação de dados?
O futuro do desenvolvimento imobiliário será cada vez mais orientado por insights baseados em dados. Na PLACE, acreditamos que isso permitirá uma personalização maior dos projetos, uma resposta mais ágil às mudanças do mercado e um planejamento urbano mais eficiente e sustentável. A lógica é focar mais no monitoramento, ou seja, em estar o tempo todo por dentro das mudanças e monitorando os movimentos do mercado, do que no "chute" ou no "feeling". Acreditamos que novas tecnologias como machine learning e inteligência artificial terão um papel crucial neste caminho.
Quais dados podem apoiar no desenvolvimento da cidade quanto ao crescimento ordenado?
Dados de uso do solo, zoneamento, dinâmica imobiliária, densidade populacional, infraestrutura disponível, transporte, aluguel, walkability são fundamentais para o mapeamento das cidades, para que os próprios usuários possam traçar ações responsivas através dos dados. Por exemplo, conseguimos cruzar áreas com maior oferta de imóveis e correlacionar o custo da moradia ou com oferta de terrenos disponíveis à venda; ou cruzar dados de renda e população para mapear regiões com potencial de crescimento. No fim do dia, não é apenas sobre possuir os dados, e sim em como conectá-los para que o próprio usuário - seja ele o poder público ou o empreendedor - possam interpretá-los e gerar insights para o desenvolvimento urbano a partir destes.
Qual experiência de apoio à comunidade vocês tiveram?
Temos experiência no apoio a diversos membros da comunidade, como SEBRAE, Sinduscon, empreendedores e prefeituras. A conexão entre todos estes entes - privado e público - é crucial para um desenvolvimento mais responsivo.